quinta-feira, 8 de julho de 2010

Tudo em dois

Tudo em dois

São duas as xícaras de café, ambas de metal, uma vermelha e outra bege, esquecidas num armário de uma fazenda.
Duas também são as taças de vinho, de vidro mesmo, nada rebuscado nem por isso menos belas, guardadas num armário de uma cozinha.
Bem como são duas as varas de pesca, uma preta e uma prata, com linhas, bóias e anzóis, retraídas e empoeiradas em cima de uma cômoda num quarto.
Tais quais os dois travesseiros, uma mais alto que o outro, que repousam lado a lado sob uma manta quadriculada de uma cama em um quarto.
Também são dois bancos de carro, duas caixas de lente, duas escovas de dente.
E por mais que um tome café nas duas xícaras, sorva diferentes vinhos em ambas as taças, fisgue belos peixes com as duas varas e abrace ambos os travesseiros, a sensação é de que nada parece igual quando a xícara vermelha era minha e a bege sua; nem quando cada um tomava vinho em sua taça; nem quando minha vara era prata e a sua era preta; muito menos quando o travesseiro mais alto era o seu. Mesmo que a sua parte em minha memória e em meu coração estejam vivas.

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07-mar-2005

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