quinta-feira, 8 de julho de 2010

Reflexões

14 de junho de 2004
Fi, querido irmão!

Que lindo o que você escreveu!
Mostra que você é um homem em transformação, querendo entender as coisas, enxergando a loucura em que viviemos, questionando valores universais!
O meu próprio desgosto por muitas coisas da vida tem muito deste sentimento. Onde foi parar essa essência, que une os homens, que derruba fronteiras e preconceitos, que os torna iguais, que os faz sorrir, que traz a paz??
Minha consciência me diz que ela se perdeu em meio a uma sociedade ocidental capitalista desenfreada, na luta pelo lucro (sinônimo da opressão), na busca pelo poder, pelo ter mais e mais. Exatamente o que você questiona.

Ter, hoje, é o que se vende. E se se vende, é porque tem quem compre. E isto se configura nos conceitos - até valores para alguns - de posse, beleza (nunca desvinculada da posse), do poder de consumo.
É triste mesmo olhar para fora e ver o mundo como está. A realidade exterior nos tira a fé, nos arranca a esperança, nos rouba o sentido. E aí a massa vai seguindo, sem poder ao menos raciocinar, questionar.

São questões muito profundas. Muito mesmo. Sei identificar claramente isto, pois sou uma pessoa que vive raciocinando sobre questões profundas. Tenho passado os últimos tempos praticamente prostrado, de tantas questões profundas. Não consigo andar no shopping sem pensar nisso tudo. Não consigo ver televisão sem pensar em outras tantas coisas. Não consigo trabalhar por tentar entender mais sobre as coisas. Questões profundas. Toda minha atitude, como sou, o que visto, o que falo, o que qustiono, são coisas profundas. E são nestes momento que crescemos como homens conscientes de seu papel nesta vida, conscientes do seu papel no universo, com todas coisas ao nosso redor, e com todas as coisas que nossos olhos não conseguem enxergar ou nossa mente não consegue conceber.

Sua questão central neste momento é "onde está o amor", ele ainda existe?
Tudo nesta vida é um ato de fé. Acreditar que o papai pode mudar é um ato de fé. Acreditar que os homens podem evoluir é um ato de fé. Acreditar que podemos ganhar na megasena é um ato de fé. Tudo é fé. Inclusive acreditar no amor.

Já fiquei muito distante do amor. Muito mesmo. Mas hoje afirmo: ele existe. Ele está em tudo e em todos. E vou mais fundo na minha crença: o amor LIBERTA.'Aliás, é a única coisa que liberta literalmente. Sou hoje um homem livre, pois amo. Sou livre dos conceitos dos outros, livre para acreditar, livre para sofrer, livre para questionar, livre para viver, livre para amar. Amo muito e amo tudo. Os bichos, a natureza, você, papai, mamãe, Vanessa, o sol, a lua, as estrelas, a infância, a juventude, a velhice, as plantas, as flores, o mar, os homens, a vida. Amo tantas coisas. E a mais importante: amo a mim mesmo, e isso foi a minha maior conquista. Sem amor próprio é impossível amar ao próximo.

Talvez tenha tido sorte de encontrar uma mulher que me mostrou o amor de uma maneira que nunca havia concebido. Talvez eu precisasse encontrar esta mulher. Talvez eu estivesse esperando essa mulher desde quando nasci. Mas nada teria acontecido se eu não estivesse preparado para aprender. Preparado e com a guarda abaixada, aberto completamente, mesmo com toda a minha dor, com todo o meu jeito, com todo o meu ser.

Somos iguais. Somos metades distintas de duas pessoas iguais. O que difere é nossa história pessoal, que moldou nossa personalidade diferente. Mas somos iguais em valores. E te digo: o amor está dentro da gente. No nosso ser. E quando ele aflora, ele "contamina" os outros. Mas é preciso muito esforço, quebrar muitas regras interiores e exteriores para o amor ter espaço na vida das pessoas. É por isso que o modo que as pessoas vivem aqui, onde só há espaço para o trabalho para viabilizar o lucro alheio e sua própria subsistência, faz com que não haja muito espaço para o amor. E essas pessoas transmitem inconscientemente esta falta de espaço para o amor em suas casas, com seus filhos, irmãos, pais, avós e amigos. E isto vai tomando o inconsciente coletivo. Onde você vai você encontra os mesmos padrões, levando sempre em conta as diferenças sócio-culturais.

Hoje, o dinheiro manda no homem. A vida gira em torno do dinheito. Sem condições financeiras para sobreviver dignamente, pra que amor se existe uma garrafa de pinga, um baseado, uma carreira de cocaína e uma arma na mão? Sem falar no fator beleza. Hoje, as pessoas amam com os olhos. É isso o que a mídia vende, isso dá lucro. Nem envelhecer podemos mais. Amor dos olhos é o amor mais triste que existe. E isto também está matando o amor verdadeiro, que a ama o ser, que ama o âmago. Acho que de maneira bem simplista, pois no meu pensamento ainda existem muitas outras coisas, isto ilustra o quadro, visto pelos meus olhos, sentido pelo meu espírito e racionalizado pela minha consciência.

Os valores estão completamente invertidos. E a esperança reside naqueles poucos - que hoje são muitos - que acreditam no amor, que questionam esta inversão de valores, esta vida falaciosa que a sociedade nos impõe. When I'm a good dog they sometimes throw me a bone. Quando sou um bom cachorinho eles, algumas vezes eles me dão um osso!

Tenha esperança, meu querido e amado irmão. E se mesmo assim não adiantar, continue tendo esperança. Pois isso é o que nos resta.

Te amo muito.

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